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Isolamento social: quem não tem casa, se isola onde?

De acordo com a Secretaria Nacional de Assistência Social, a população em situação de rua se caracteriza por ser um grupo de pessoas oriundos de diferentes contextos, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta. Grande parte destas pessoas tem vínculos familiares interrompidos ou fragilizados, restando-lhes a "rua" como espaço de moradia e sustento. Sob esse enfoque, questiona-se: "no atual contexto pandêmico em que as dificuldades financeiras e sociais se aprofundaram, como sobrevivem as pessoas em situação de rua da nossa cidade?"

Instigados por este questionamento, fomos às ruas de Santa Maria para ouvir a história de vida de algumas pessoas que vivem nesta situação. O primeiro relato é de um senhor de 67 anos, que vive na rua há cerca de três anos e se declara dependente alcoólico. O mesmo relatou que, durante a pandemia, muitas pessoas têm fornecido comida, roupas e cobertores. Sensibilizado, relata que, durante as noites mais frias, jovens passam de carro distribuindo sopas quentes e marmitas. Atitudes de compaixão!

Em continuidade, o mesmo relatou que, no ano passado, foi internado na UPA, onde além de tratamento medicamentoso, recebeu carinho, atenção e comida, pelo fato dos profissionais de saúde saberem do seu paradeiro nas ruas: "Senti-me bem atendido lá na UPA. Fui bem atendido mesmo. "

Outro relato é de um jovem de 29 anos. O mesmo disse que não lembra há quanto tempo mora nas ruas, mas que, por diversas vezes, buscou os serviços de saúde, e nem sempre foi respeitado, tendo a situação se agravado durante a pandemia. Em alguns momentos de sua fala, o morador evidenciou a falta de acolhimento às pessoas que vivem nessa condição de vulnerabilidade, principalmente em relação aos dependentes químicos e alcoólicos, conforme expresso: "A gente tá sendo excluído da sociedade... tem pessoas que tem má intenção. A gente tá, toda hora, sendo não só maltratado, mas excluído da sociedade".

Forçados à exposição social, as pessoas em situação de rua buscam refúgio em ações desenvolvidas por organizações sociais e iniciativas individuais. Em eventos solidários, realizados na Rua Alberto Pascoalini e na Praça Saldanha Marinho, são distribuídos alimentos, cobertores e equipamentos de proteção individual.

As pessoas em situação de rua são invisíveis aos olhos de uma parcela da sociedade. Em contrapartida, parte dos santa-marienses demonstram gestos diários de sensibilidade e solidariedade. Além dos itens básicos de sobrevivência, essas pessoas necessitam ser ouvidas e respeitadas. Afinal, somos todos humanos, cidadãos e merecedores de acolhimento, cuidado e amor.

Atravessamos um período de extrema dificuldade, mas podemos reconhecer, nesses desafios, possibilidades para utilizar os óculos da compaixão e exercitar nossa fraternidade e solidariedade.

Texto: Bruno Cassol Camera, acadêmico de Enfermagem da Universidade Franciscana e Isadora Cardoso Pereira, acadêmica de Enfermagem da Universidade Franciscana

*Artigo produzido sob a orientação da professora Dirce Stein Backes, responsável pela disciplina de Fundamentos Teórico Filosóficos da Enfermagem

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